IES se reúnem para discutir potencialidades da IA e as novas regras e instrumentos de avaliação criados pelo MEC para garantir qualidade do ensino
Crescimento acelerado da oferta de cursos de ensino superior com pouca qualidade fez o governo criar novas regras para os cursos de EAD e propor mudanças nos instrumentos de avaliação dos cursos e das IES. Por isso, é necessário e urgente que as instituições do ensino superior se atualizem sobre as novas regras e se prepararem para o novo sistema de avaliação.
Para o curso de medicina, por exemplo, o MEC já anunciou que vai suspender o vestibular, os contratos de financiamento estudantil (Fies) e a participação no Prouni das Instituições que tenham desempenho ruim no Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed).
Elisabeth Guedes, presidente do conselho da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), conselheira no Conselho Nacional de Educação (CNE) e membro do Fórum dos executivos financeiros para as instituições de ensino privadas do Brasil (FinanCIES), explica que a regulação é importante, mas que a referência da qualidade é a avaliação.
Com uma avaliação bem-feita, é possível organizar o setor e premiar aquelas instituições que estão melhor colocadas. “A regulação já está posta. O que a gente precisa agora é avaliar se o que foi regulamentado está sendo cumprido. No entanto, as avaliações são muito ruins. O instrumento de avaliação é muito antigo, tem 20 anos. Estão avaliando intenções, mas não o resultado concreto. O mundo mudou e o instrumento não”.
Diante do cenário, ela diz que é necessário e importante o trabalho que está sendo feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), órgão do MEC, de construção de novos instrumentos de avaliação dos cursos de ensino superior. Também considera positivo que, com o novo sistema de avaliação, a CPA (Comissão própria de avaliação) das IES ganhe enorme relevância.
Antes, o documento de avaliação da CPA não era lido pelo MEC, e nem sempre era levado a sério e considerado importante pelas próprias IES, explica. Agora, com o novo sistema de avaliação, o documento passará a ser validado oficialmente e, por isso, terá que ser feito com muita seriedade. “O novo ciclo avaliativo vai ser de três anos: no 1º ano será feito pelo Enade, no 2º ano pelo relatório da CPA e no 3º ano in loco com visita do Inep”.
Segundo Elizabeth, o governo está sinalizando que o novo sistema de avaliação “vem para valer e vem para nos orientar”, e que isso é importante. Ela ressalta que é necessário avaliar e regular para o mercado funcionar direito, “porque um mercado desregulado só atende às instituições que não são sérias”. “Você faz o seu investimento correto, treina os seus professores, coloca o seu laboratório funcionando e não consegue entregar, porque tem pirataria do lado”.
Ela também defende que é preciso rever os cursos de pós-graduação latu sensu, que criaram um mercado totalmente “vandalizado e desmoralizante”; discutir o curso de medicina, cujas novas regras já estão sinalizadas; e rever os cursos de formação de professores. Para ela, as IES precisam fazer um pacto para iniciar um ciclo virtuoso de formação de uma nova geração de docentes, pois “hoje a educação básica na rede pública não tem qualidade, ou seja, os professores não estão sendo bem formados”. Acrescenta ser preciso que principalmente as IES privadas firmem um compromisso com o futuro do Brasil e com o desenvolvimento nacional, já que são responsáveis por formar 75% dos professores.
Sobre regulação é preciso estar atento, pois “existe excesso de regulação que impacta negativamente o mercado, mas também há falta de regulação que faz proliferar a ilegalidade, a falta de qualidade, o engano do aluno, o prejuízo ao professor, ao corpo docente e à sociedade de maneira geral”.
Ela considera importante a discussão sobre a criação de uma agência regulatória para o mercado da educação, para que sejam definidas e cumpridas as regras de concorrência entre as instituições. “Assim como tem o Conar para regular o mercado de propaganda, a ANA para as águas, a Anvisa para a saúde, precisamos ter uma para a educação”. Hoje, explica, se em uma pequena cidade com apenas duas instituições, uma delas assediar o aluno da outra, nada acontece. Mas, se isso ocorrer no mercado de propaganda, por exemplo, o Conar interfere e retira do ar uma propaganda errada ou enganosa. “Nós temos regras de funcionamento do processo do curso, mas não do mercado de educação”, conclui.
Elizabeth diz que há vários assuntos importantes de serem debatidos em relação à avaliação e regulação dos cursos e das IES. Por isso, acredita que será muito interessante mediar a mesa-redonda Ambiente político e regulatório do setor – Como a regulação impacta o presente e o futuro das IES?, no FinancIES 2025, dias 5 e 6 de novembro. Ela conta que vai convidar para a mesa representantes das mantenedoras de IES que são a favor da regulação do EAD e também aqueles que sofreram o impacto e a veem como uma regulação opressiva; além de representantes do Conselho Nacional de Educação, do MEC e do INEP, para que debatam sobre as mudanças que estão ocorrendo. Durante a mesa, também pretende apresentar o novo sistema de avaliação dos cursos e das IES que está sendo desenvolvido pelo Inep.
A mesa-redonda com Elizabeth Guedes será no dia 6 de novembro, às 11hs, no FinancIES 2025 (fórum dos executivos financeiros para as instituições de ensino privadas do Brasil), em Florianópolis, SC.
Elizabeth Guedes diz que a chegada da Inteligência Artificial é muito importante para o setor de educação, porque permite ir muito além do que se faz hoje, com novas formas de testes, correções e possibilidades de fontes de estudo para os alunos. “O ensino a distância já mudou muito a educação. A IA vai fazer o resto da mudança que falta”.
Segundo ela, “essa tendência desses conselhos corporativistas brasileiros de querer tudo presencial não combina com o aluno que vem aí, porque o aluno que vai entrar já nasceu digital. Ele já é alfabetizado digital”. Para Elizabeth Guedes, a IA não vai substituir o professor, mas vai mudar o seu papel na sala de aula. “O professor vai deixar de ser um mestre das próprias lições para ser um instrutor das diversas possibilidades de aprendizagem e de fontes de dados para os alunos”. Ela também afirma que a IA vai ajudar nas mudanças das avaliações, pois possibilita que sejam feitas a distância, verificando, por exemplo, pela íris do olho, quem está fazendo a prova. “É um outro mundo, e um mundo maravilhoso”, comenta.
Saiba mais em: https://revistaensinosuperior.com.br/2025/08/29/ies-debatem-o-futuro-da-educacao/