Lars Janér, CEO da Learnbase e Conselheiro do Comitê de Edtechs da Bett Brasil, traz suas considerações sobre o futuro da tecnologia educacional a partir do que observou na Bett UK
A edição de 2025 da Bett marcou os 40 anos deste que é o principal evento global de tecnologia educacional. Com mais de 35 mil participantes, 600 empresas de tecnologia de 130 países e 300 palestrantes, o ExCeL London se transformou em um grande hub de inovação onde educadores, desenvolvedores e formuladores de políticas públicas compartilharam visões e experiências sobre o futuro da educação.
Como já era de se esperar, as tecnologias e tendências apresentadas na feira já refletem grandes mudanças na forma de ensinar e aprender. A inteligência artificial obviamente dominou as atenções, com ferramentas práticas para atividades administrativas e experiências em sala de aula. Os debates sobre privacidade e proteção de dados ganharam destaque especial, assim como as discussões sobre uso responsável dessas novas tecnologias. Educadores de diferentes países mostraram como estão usando a tecnologia para criar aulas mais envolventes e inclusivas.
O evento reuniu desde iniciativas governamentais de grande porte até soluções criativas de startups educacionais. As demonstrações e casos apresentados por especialistas de vários países mostraram um caminho claro: a educação está se tornando mais personalizada e adaptativa, com a tecnologia atuando como aliada dos professores no processo de aprendizagem.
A nova era da inteligência artificial
Duncan Verry, diretor geral da Bett, abriu o evento com uma reflexão que capturou a essência do momento atual: “Em décadas recentes, os professores passaram por várias mudanças: computador pessoal, internet, celulares, computação em nuvem… Junto com a transição abrupta para o ensino remoto durante a pandemia. Mas agora a tecnologia ganhou um superpoder: a inteligência artificial.” Verry enfatizou que não se trata de uma competição entre professores e máquinas, mas sim de uma ferramenta poderosa a favor dos educadores. Foi uma perspectiva equilibrada refletindo a maturidade do setor em relação à IA, que estava presente em praticamente todas as soluções apresentadas, mas de uma forma mais pragmática e focada em resultados concretos.
Logo em seguida, em uma das palestras mais aguardadas do evento, Sir Stephen Fry trouxe um contraponto com uma analogia interessante: “você não pode inventar os aviões sem criar também sistemas de controle de tráfego aéreo – ou todos morrem. Neste momento, estamos implementando IA sem o equivalente ao controle de tráfego”. Uma observação que reflete certa ansiedade com a falta de frameworks regulatórios e diretrizes pedagógicas claras para o uso de IA em sala de aula.
Segurança e responsabilidade digital
Durante uma mesa redonda sobre privacidade e ética, Guadalupe Sampedro, sócia da Cooley, apresentou uma perspectiva interessante sobre o uso de IA nas escolas. “A partir dos 13 anos no Reino Unido, os alunos podem consentir com o uso de seus dados. Portanto, devemos encontrar formas amigáveis de apresentar este aviso às crianças. Você precisa usar diagramas, desenhos… algo que torne muito fácil para eles entenderem e navegarem neste processo”, explicou Sampedro.
Em resposta a essas preocupações, a iniciativa EDSAFE emergiu como um framework abrangente para orientar o uso responsável da IA na educação. O acrônimo representa os pilares fundamentais do programa:
Esta estrutura oferece diretrizes práticas para educadores e gestores implementarem tecnologias de IA de forma segura e eficaz, sempre priorizando o bem-estar e o desenvolvimento dos estudantes. O framework já está sendo adotado por várias instituições educacionais como referência para suas políticas de tecnologia e privacidade.
Os estandes: tecnologias em ação
O destaque da Microsoft foi a integração do Copilot ao seu ambiente educacional. Em demonstrações práticas, professores mostravam como utilizam a ferramenta para criar materiais didáticos e avaliar trabalhos dos alunos. O Minecraft Education apresentou seu novo projeto, o “AI Ready Skills” que transforma conceitos complexos de IA em experiências lúdicas e facilmente compreensíveis.
O Google, por sua vez, reforçou em suas demonstrações todas as funcionalidades do Gemini em contextos educacionais. Ao vivo no estande, professores trabalhavam na geração de exercícios personalizados e no suporte ao planejamento de aulas.
A Meta apresentou casos práticos de uso de RV em cursos superiores. Durante uma demonstração, estudantes de medicina realizavam procedimentos em um hospital virtual – uma aplicação interessante da tecnologia que combina o realismo de um ambiente hospitalar com a segurança que o óculos proporciona.
A Apple focou na integração entre seus dispositivos e experiências de aprendizado, apresentando seu ecossistema educacional que inclui programação, criação de conteúdo e acessibilidade.
Inovações pedagógicas
Com presença em mais de 100 escolas e alcance de 3.000 estudantes, o programa da LEGO Education mostrou alguns resultados da integração entre aprendizado prático e desenvolvimento de habilidades STEAM. Os professores participantes contavam suas experiências pessoais com melhorias significativas no engajamento dos alunos.
O programa transformou a produção de conteúdo em ferramenta pedagógica. Observei grupos de alunos trabalhando em todas as etapas de produção jornalística – desde a pesquisa até a apresentação final. O processo desenvolve não apenas habilidades técnicas, mas também pensamento crítico e trabalho em equipe.
As ferramentas em evolução
O Kahoot apresentou sua nova geração de ferramentas, incluindo:
A Seesaw trouxe novidades em comunicação escolar, com destaque para a nova versão em Português do Brasil e ferramentas de feedback visual.
Mais algumas tendências observadas
Três direções principais se destacaram durante o evento:
Personalização em escala
Aprendizado imersivo
Criação e colaboração
Perspectivas e reflexões
A Bett 2025 mostrou que a tecnologia educacional chegou em um novo ponto de maturidade – não se trata mais de inovação pela inovação, mas de soluções que respondem a necessidades pedagógicas reais. A integração entre IA, realidade virtual e outras tecnologias emergentes está criando um ecossistema educacional mais rico e adaptável.
O evento também mostrou que o papel do professor está se transformando, não diminuindo. As ferramentas apresentadas focam em automatizar tarefas repetitivas, permitindo que educadores dediquem mais tempo à interação significativa com os alunos.
As iniciativas governamentais e institucionais apresentadas sugerem também um futuro onde a tecnologia educacional será mais acessível e padronizada, facilitando sua adoção em diferentes contextos e realidades.
No final, a Bett 2025 deixou clara uma mensagem: o futuro da educação não está apenas na tecnologia, mas na forma como ela amplifica e potencializa as melhores práticas pedagógicas. O desafio agora é garantir que essa transformação aconteça de forma equitativa e sustentável.
Saiba mais em: https://educador21.com/presente-e-futuro-da-tecnologia-educacional/