A ideia de um apagão de professores é discutida como um risco, mas de tão repetida pode ser naturalizada. São tantos os motivos para não escolher a carreira docente, são tantas as possibilidades de acesso rápido e fácil a informações… que essa perspectiva pode passar de terrível a inevitável.
Por isso, é fundamental lembrar por que a profissão é e sempre será fundamental, por que devemos defendê-la e seguir lutando para que professoras e professores de todas as etapas do ensino, mas especialmente da educação básica, tenham condições para exercer seu ofício da melhor forma possível.
Condições dignas de remuneração, de progressão na carreira, mas também de tempo de estudo, de planejamento, de formação continuada, de trocas com seus pares, para que sua atuação seja reflexiva, conectada com a realidade atual e referenciada por uma comunidade de profissionais pautada pela excelência e pela garantia do direito de aprendizagem de todos.
O risco do apagão docente também não é exclusividade do Brasil. De acordo com o relatório global sobre professores da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em um mundo em que ainda temos 251 milhões de crianças fora da escola, são necessários mais 44 milhões de docentes para dar conta da educação primária e secundária até 2030. Na América Latina, faltam 3,2 milhões de profissionais.
Na ausência de professores, quem assume a responsabilidade por introduzir as novas gerações ao patrimônio cultural e histórico construído pela comunidade? Quem ensina a uma criança, um adolescente ou adulto todo o esforço que fizemos até aqui para compreender, sistematizar, classificar esse conhecimento acumulado pelos povos? Quem lhes estimula a contribuir com esse conhecimento, a inovar, a transformar, a não repetir os erros e abusos do passado? Não são tarefas a serem desempenhadas por pessoas exaustas, desvalorizadas, ameaçadas, preocupadas com o próprio sustento. Nem mesmo pela incansável inteligência artificial.
A resposta, portanto, ao risco de apagão não está em buscar alternativas ao professor, mas sim em fortalecê-lo sempre, lhe oferecer as melhores condições para que realize o melhor trabalho.
Feito por professoras para professoras e professores, o livro Docência – ensinar, aprender e transformar agora, é um passo nessa direção, apresentando-se ao mesmo tempo como instrumento de planejamento da prática docente e de fortalecimento da identidade profissional deles.
Construído a partir da formação e da interação com milhares de docentes com os quais a Roda Educativa, organização da sociedade civil composta por educadores e profissionais de diversas áreas que atua na formação de profissionais de redes públicas há 27 anos, Docência é um convite à reflexão sobre o papel transformador do professor na escola e na sociedade e uma provocação generosa para que torne seus saberes e desafios visíveis à sociedade.
O livro Docência – ensinar, aprender e transformar agora. O livro está disponível para download gratuito nos sites da Fundação Santillana e da Roda Educativa. Baixe agora.
“Precisamos fazer com que todos os setores da sociedade compreendam nossas necessidades e nos encarem como profissionais que buscam continuamente qualificação. Nós nos valorizamos, conhecemos bem as demandas, as dificuldades e a falta de condições para o pleno exercício da profissão, mas só seremos valorizados se falarmos e escrevermos sobre o que fazemos e os dilemas que enfrentamos – não como queixa ou autoelogio, mas como evidência de conquistas realizadas e de problemas enfrentados”, apontam as autoras na introdução do livro.
Em um diálogo constante entre teoria e prática, o livro articula temas como planejamento, registro, interação, espaço, tempo, materiais e avaliação e constrói uma visão ampla da docência contemporânea como um ato coletivo, político e profundamente humano.
A introdução, intitulada “Planejar a Atuação: compromisso coletivo”, estabelece o tom da obra. Nela, o livro apresenta a importância do planejamento como um processo coletivo e intencional, que articula todos os profissionais e territórios educativos. A docência é compreendida como uma ação sistêmica, que ultrapassa o individual e se insere em uma perspectiva integral, inclusiva, democrática e antirracista. Assim, o planejamento é visto como um instrumento de compromisso ético e político com a aprendizagem de todos.
O capítulo 1, “Registrar e aprender como docente” inaugura o diálogo sobre o protagonismo do professor em seu próprio desenvolvimento profissional. O texto convida o docente a compreender-se como sujeito que aprende continuamente a partir da própria prática. O registro pedagógico é apresentado como um recurso de reflexão e análise, fundamental para acompanhar o percurso dos estudantes e aperfeiçoar intervenções pedagógicas. Registrar, nesse sentido, é afirmar publicamente a profissão e seus saberes.
Em “Fortalecer as Interações”, o capítulo 2, o foco se volta às relações humanas na escola. A obra enfatiza que a aprendizagem é um processo social e que o diálogo, o respeito e a convivência com as diferenças são pilares para a construção de um ambiente acolhedor e fértil para o conhecimento. O capítulo propõe estratégias para promover interações significativas entre docentes e estudantes, favorecendo um clima escolar pautado na empatia e na cooperação.
O capítulo 3, “Organizar ambientes para conviver e aprender”, amplia o olhar sobre os espaços escolares, compreendidos como o “terceiro educador”. O livro orienta para que salas de aula, corredores e pátios sejam concebidos como extensões do currículo, capazes de expressar as identidades e culturas dos estudantes. Essa organização intencional e flexível dos ambientes de aprendizagem contribui para a inclusão e a acessibilidade, transformando o espaço físico em um elemento ativo da pedagogia.
Nos capítulos 4, 5 e 6, a obra aprofunda dimensões complementares da prática. Em “Planejar os tempos didáticos”, discute-se a gestão do tempo como fator determinante da aprendizagem, defendendo a diversidade de ritmos e a superação da ideia de que todos aprendem ao mesmo tempo.
Já em “Ampliar a concepção dos materiais”, a curadoria de recursos é abordada sob critérios de diversidade, representatividade e acessibilidade, reforçando o compromisso com a equidade e a valorização dos territórios. Por fim, em “Acompanhar e comunicar as aprendizagens”, o livro propõe uma concepção formativa e dialógica da avaliação, entendida como processo contínuo e comunicativo, que envolve estudantes, famílias e equipe escolar.
O livro se propõe a ser um parceiro de conversa, instigando reflexões e propondo caminhos para o aprimoramento contínuo da prática docente. Seu propósito está alinhado à construção de uma educação pública de qualidade, democrática e inclusiva, comprometida com a equidade e o respeito às diferenças.
Saiba mais em: https://porvir.org/apagao-professores-risco-profecia/
Copyright © Direitos Reservados por Learnbase Gestão e Consultoria Educacional S.A.
Contato
contato@learnbasek12.com.br