O ensino da ortografia pode melhorar as habilidades de leitura e escrita

Uma pesquisadora da Universidade Estadual da Geórgia descobriu que intervenções focadas na ortografia melhoraram as habilidades gerais de alfabetização, inclusive de alunos com dislexia.

Embora alguns acreditem que sua importância tenha diminuído com o advento dos recursos de verificação ortográfica baseados em inteligência artificial em processadores de texto, e-mails e outros aplicativos de computador, o ensino da ortografia é fundamental para ajudar os alunos, principalmente aqueles com dificuldades de aprendizagem, a terem sucesso na leitura e na escrita. 

No entanto, de acordo com uma meta-análise que sintetizou quase meio século de pesquisas sobre o tema, existem poucos materiais disponíveis comercialmente para que escolas e distritos os incorporem.

Esse estudo, publicado no Journal of Learning Disabilities, descobriu que os alunos não apenas melhoraram sua capacidade de ortografia , mas também suas habilidades de leitura e escrita, principalmente quando receberam instrução baseada na fonética e métodos multilíngues, como a integração de sons, padrões ortográficos e partes de palavras.

O autor principal do estudo, Brennan Chandler, professor assistente de dislexia na Universidade Estadual da Geórgia, examinou 59 ensaios clínicos com mais de 2.200 alunos do jardim de infância ao 9º ano, em busca de evidências sobre como intervenções focadas na ortografia impactam aqueles que tinham ou estavam em risco de desenvolver dificuldades de aprendizagem como a dislexia.

Chandler , um ex-professor de educação especial do ensino fundamental que lecionava para o 2º e 3º ano em uma escola para alunos com dupla excepcionalidade , lembrou-se de como todos os seus ex-alunos tinham dificuldades para aprender a escrever. Seu desejo de ajudar esses alunos o motivou a cursar o doutorado e se especializar no ensino da escrita. 

“A ortografia é uma habilidade fundamental na escrita”, disse ele. “Se os alunos não conseguem soletrar as palavras, eles não conseguem acessar essas habilidades de ordem superior.”

A meta-análise descobriu que proporcionar aos alunos prática na conexão fonemológica de sons não só os ajuda a soletrar, mas também a ler e escrever melhor — especialmente entre alunos com dislexia, disse Chandler. “Isso os ajuda a decifrar o código da língua inglesa, tanto o código que vemos quanto a conexão desse código com a nossa linguagem escrita.”

Quando os alunos aprendem a soletrar memorizando palavras específicas, isso só os ajuda a soletrar essas palavras, disse Chandler, acrescentando que memorizar os sons é o ingrediente fundamental. 

“A ortografia baseada na fonêmica é a que apresenta maior potencial de transferência”, disse ele. “Queremos que os professores reflitam sobre como incorporar diferentes abordagens.”

Embora a abordagem científica da leitura adotada em muitos distritos e estados ajude os alunos com habilidades de alfabetização, “a ortografia e a escrita às vezes são atividades secundárias”, disse Chandler. “Ler e escrever são duas faces da mesma moeda. Precisamos pensar em como podemos incorporar mais instrução de escrita, e especificamente instrução de ortografia, em nossa prática diária.”

A análise também constatou que existem poucos programas prontos para uso em sala de aula que integrem estrategicamente essas abordagens. 

“Os distritos precisam de padrões profissionais”, disse ele. “É difícil recomendar às escolas exatamente o que usar. Tenho dito aos professores e líderes distritais que temos a base científica, mas as escolas precisam das ferramentas e dos programas.”

O próximo projeto de Chandler e sua equipe de pesquisa será desenvolver exercícios de intervenção ortográfica baseados em pesquisa que possam ser incorporados às abordagens de leitura existentes e impulsionar o suporte aos resultados de leitura e escrita — especialmente para alunos com dislexia. 

“A ortografia geralmente fica atrás das habilidades de leitura porque exige muito esforço cognitivo”, disse ele. “Alguns alunos precisam desse apoio extra. Estamos trabalhando em uma intervenção para ajudar escolas e distritos a garantir que possam apoiar esses resultados.”